As primeiras impressões
O Grand Prix colocou frente a frente pela primeira vez neste novo ciclo olímpico as principais seleções. Algumas delas usaram o torneio para fazer testes, como os EUA e a Rússia; outras vieram com sua força máxima, caso de Sérvia e China. E como é que elas se saíram? Que sinais deixaram sobre os próximos anos? Isso é que nós vamos analisar agora.
Itália
Com uma equipe bastante jovem, chegou à final do Grand Prix. Uma conquista surpreendente e que não deve ser considerada apenas como um golpe de sorte. A Itália tem não só uma jogadora acima da média, a Egonu, como um belo conjunto. Mesmo com pouco tempo de trabalho, mostrou-se um time harmonioso e com bons nomes em outras posições, como é o caso da jovem levantadora Malinov e das já mais conhecidas Chirichella, pelo meio, e a líbero De Gennaro. A seleção manteve o ótimo volume de jogo que a caracterizou nos últimos anos e acrescentou uma dose de agressividade no saque e no ataque, com a Egonu. O problema, além da falta de experiência, que pesou na final, é a falta de companhia para a Egonu nas pontas. Esse será o grande desafio da Itália a partir de agora: evitar a "Egonudependência".
Sérvia
Sérvia
Não era do costume do treinador sérvio, Zoran Terzic, dar muita bola para o GP (e outros torneios de menor peso). Sempre poupava as jogadoras principais na fase classificatória ou na final. Justamente nesta edição, ele resolveu utilizar sua força máxima durante todo o torneio, poupando somente a Boskovic por problemas físicos no início. A Sérvia foi o melhor time, até perder para o Brasil na semifinal e ter que se contentar com o bronze. O que poderia ser um bom começo, um título para coroar e estimular esta talentosa geração que brilhou na Rio 2016, acabou por ser um tropeço. Acho que não tem seleção com o poder ofensivo e de bloqueio tão forte quanto a Sérvia, no momento. Porém, ela tem um problema crônico na linha de passe. Para cobrir a Mihajlovic na recepção, expõe demais sua líbero e a Malesevic (ou a Busa), e nenhuma delas é uma grande talento no fundamento. Falta ali uma jogadora mais técnica. Também não vi nenhum aprimoramento em comparação àquela Sérvia que jogou a Olimpíada. Continua um time de muita força, agressividade e movido pela vontade (essa se viu um pouco menos no GP), mas pouco estratégico. A Sérvia despontou no último ciclo muito apoiada no talento de suas jogadoras. Agora precisa dar um passo adiante e confirmar ser um grande time, não somente um grande elenco.
China
A China foi outra seleção que veio com sua força máxima para o GP, porém variou bastante a escalação nas duas primeiras fases, o que acabou por não dar uma base muito firme ao time no restante do torneio. Mas mais do que entrosamento, o que deixou a China de fora do pódio foram os problemas no sistema ofensivo: recepção e ataque. Por mais que a Zhu tenha feito uma Olimpíada sensacional, a China teve outros recursos ofensivos importantes à época. No GP, porém, isso não se repetiu, principalmente pelas pontas. Zhang voltou para a fase final, mas não foi bem e Gong foi subaproveitada. Pelo meio, Yuan se saiu bem, mas a jovem Gao, que tinha feito um bom Montreux, teve dificuldades de virar as poucas bolas que recebia. O fato de a recepção não ter funcionado com qualidade, inclusive com a líbero Li, deixou o time mais lento e previsível. Se não fosse a Zhu ser de outro planeta, a China teria muito mais dificuldades de colocar a bola no chão. Apesar de um mau resultado depois do ouro olímpico, a China tem tudo para se manter entre as líderes deste ciclo. É um time inteligente, que erra pouco e que conta com a Zhu. Além disso, mostrou um grupo com potencial no Montreux para dar uma retaguarda ao atual, caso necessário. A única preocupação é em relação à Lang Ping. Não consegui ter muito claro se ela voltará ao comando do time em quadra ou ficará somente como supervisora da seleção. Ela, como se viu no Rio, pode mudar o rumo de uma partida.
Estados Unidos
O treinador Karch Kiraly optou por um time misto para jogar o GP, com algumas reservas da seleção nos últimos anos e muitas novatas. A mistura parecia que ia dar certo, pois os EUA começaram com três vitórias contra China, Itália e Rússia. Só que o time foi caindo de rendimento ao longo do GP e ficou de fora da busca por medalha. Individualmente, nomes que tinham ido bem nas duas primeiras etapas, também sofreram esta queda, como foi o caso do trio das pontas formado pela oposta Murphy e as ponteiras Bartsch e Kingdon. Com qualidade na recepção e bom aproveitamento de ataque, elas deram bastante consistência à equipe na fase classificatória, o que não aconteceu na final. Os EUA não vieram com nenhuma grande novidade (ainda bem), mas continuam apresentando e dando experiência a novos e bons nomes, o que mantém a competição entre o elenco acirrada. O time ganha em qualidade com a Lloyd no levantamento no lugar da Glass, mas nada que alce os EUA à posição da seleção a ser batida. Assim como o Brasil, os EUA devem se valer mais do seu conjunto para se manter na briga pelo topo. A não ser que a Hooker consiga retornar à seleção, como é o desejo dela...
Holanda
A Holanda até que se saiu bem neste GP sem a Sloetjes. Chegou à fase final com a Plak segurando as pontas - algumas vezes com a ajuda da Buijs, outras sem - no ataque. O interessante é que a Holanda pode ter encontrado no torneio uma solução para as inconstâncias da Buijs que tanto desestabilizam o time, tanto no passe como no ataque. A ponteira Daalderop assumiu bem as duas funções quando entrou na fase final no lugar da titular. Uma saída que vem em boa hora já que a Pietersen, que era sempre uma carta na manga do Guidetti para consertar a recepção, deu um tempo na carreira para estudar. Mas, com ou sem Sloetjes, com ou sem Daalderop, a verdade é que ainda falta algo ao time para alcançar outro patamar e ser levado mais a sério. É uma equipe ainda pouco assertiva e confiante nas horas decisivas. E não sei o quanto o novo treinador, Jamie Morison, poderá fazer sobre isso, pois acho que as principais jogadoras não tem muito o perfil de chamar a responsabilidade para si nos momentos importantes. Talvez a Plak tenha potencial para isso, vamos ver como ela se sai com a volta da Sloetjes.
Rússia
A Rússia sequer se classificou para o Final Six, mas gostaria de acrescentá-la nesta análise. A seleção veio com um grupo sem as conhecidas Goncharova, Kosheleva, Shcherban e as levantadoras Vetrova e Pankova. Todas essas foram poupadas para o Europeu que acontece em setembro. O treinador Vladimir Kuzyutkin usou o GP para colocar todo mundo para jogar, sem muita preocupação com entrosamento. O interessante é que, sem suas principais referências pelas pontas, a Rússia aproveitou muito mais as suas centrais, principalmente quando a Filishtinskaia jogou como levantadora titular. Fetisova nunca deve ter atacando tanto na vida quanto no GP. E ainda bem que ela, quando acionada, respondeu com eficiência porque, pelas pontas, a história foi diferente. As mais jovens, que deveriam dar alguma esperança de uma renovação qualificada à seleção, como Voronkova e Parubets, tiveram muita dificuldade em colocar a bola no chão. Ou seja, neste GP, nenhum indicativo de que a Rússia terá alguma boa novidade nos próximos quatro anos.
China
A China foi outra seleção que veio com sua força máxima para o GP, porém variou bastante a escalação nas duas primeiras fases, o que acabou por não dar uma base muito firme ao time no restante do torneio. Mas mais do que entrosamento, o que deixou a China de fora do pódio foram os problemas no sistema ofensivo: recepção e ataque. Por mais que a Zhu tenha feito uma Olimpíada sensacional, a China teve outros recursos ofensivos importantes à época. No GP, porém, isso não se repetiu, principalmente pelas pontas. Zhang voltou para a fase final, mas não foi bem e Gong foi subaproveitada. Pelo meio, Yuan se saiu bem, mas a jovem Gao, que tinha feito um bom Montreux, teve dificuldades de virar as poucas bolas que recebia. O fato de a recepção não ter funcionado com qualidade, inclusive com a líbero Li, deixou o time mais lento e previsível. Se não fosse a Zhu ser de outro planeta, a China teria muito mais dificuldades de colocar a bola no chão. Apesar de um mau resultado depois do ouro olímpico, a China tem tudo para se manter entre as líderes deste ciclo. É um time inteligente, que erra pouco e que conta com a Zhu. Além disso, mostrou um grupo com potencial no Montreux para dar uma retaguarda ao atual, caso necessário. A única preocupação é em relação à Lang Ping. Não consegui ter muito claro se ela voltará ao comando do time em quadra ou ficará somente como supervisora da seleção. Ela, como se viu no Rio, pode mudar o rumo de uma partida.
Estados Unidos
O treinador Karch Kiraly optou por um time misto para jogar o GP, com algumas reservas da seleção nos últimos anos e muitas novatas. A mistura parecia que ia dar certo, pois os EUA começaram com três vitórias contra China, Itália e Rússia. Só que o time foi caindo de rendimento ao longo do GP e ficou de fora da busca por medalha. Individualmente, nomes que tinham ido bem nas duas primeiras etapas, também sofreram esta queda, como foi o caso do trio das pontas formado pela oposta Murphy e as ponteiras Bartsch e Kingdon. Com qualidade na recepção e bom aproveitamento de ataque, elas deram bastante consistência à equipe na fase classificatória, o que não aconteceu na final. Os EUA não vieram com nenhuma grande novidade (ainda bem), mas continuam apresentando e dando experiência a novos e bons nomes, o que mantém a competição entre o elenco acirrada. O time ganha em qualidade com a Lloyd no levantamento no lugar da Glass, mas nada que alce os EUA à posição da seleção a ser batida. Assim como o Brasil, os EUA devem se valer mais do seu conjunto para se manter na briga pelo topo. A não ser que a Hooker consiga retornar à seleção, como é o desejo dela...
Holanda
A Holanda até que se saiu bem neste GP sem a Sloetjes. Chegou à fase final com a Plak segurando as pontas - algumas vezes com a ajuda da Buijs, outras sem - no ataque. O interessante é que a Holanda pode ter encontrado no torneio uma solução para as inconstâncias da Buijs que tanto desestabilizam o time, tanto no passe como no ataque. A ponteira Daalderop assumiu bem as duas funções quando entrou na fase final no lugar da titular. Uma saída que vem em boa hora já que a Pietersen, que era sempre uma carta na manga do Guidetti para consertar a recepção, deu um tempo na carreira para estudar. Mas, com ou sem Sloetjes, com ou sem Daalderop, a verdade é que ainda falta algo ao time para alcançar outro patamar e ser levado mais a sério. É uma equipe ainda pouco assertiva e confiante nas horas decisivas. E não sei o quanto o novo treinador, Jamie Morison, poderá fazer sobre isso, pois acho que as principais jogadoras não tem muito o perfil de chamar a responsabilidade para si nos momentos importantes. Talvez a Plak tenha potencial para isso, vamos ver como ela se sai com a volta da Sloetjes.
Rússia
A Rússia sequer se classificou para o Final Six, mas gostaria de acrescentá-la nesta análise. A seleção veio com um grupo sem as conhecidas Goncharova, Kosheleva, Shcherban e as levantadoras Vetrova e Pankova. Todas essas foram poupadas para o Europeu que acontece em setembro. O treinador Vladimir Kuzyutkin usou o GP para colocar todo mundo para jogar, sem muita preocupação com entrosamento. O interessante é que, sem suas principais referências pelas pontas, a Rússia aproveitou muito mais as suas centrais, principalmente quando a Filishtinskaia jogou como levantadora titular. Fetisova nunca deve ter atacando tanto na vida quanto no GP. E ainda bem que ela, quando acionada, respondeu com eficiência porque, pelas pontas, a história foi diferente. As mais jovens, que deveriam dar alguma esperança de uma renovação qualificada à seleção, como Voronkova e Parubets, tiveram muita dificuldade em colocar a bola no chão. Ou seja, neste GP, nenhum indicativo de que a Rússia terá alguma boa novidade nos próximos quatro anos.
Comentários
As seleções da Holanda, da China e da Sérvia, que mantiveram as bases dos times semifinalistas olímpicos, para mim, não deixaram a desejar nesse Grand Prix. Na minha opinião, a Sérvia perdeu nos detalhes na semifinal contra o Brasil e a regularidade das sérvias sempre me chama a atenção. Zoran Terzic está no cargo há muito tempo e conhece bem as suas jogadoras. Agora, uma coisa ele tem que consertar urgentemente: a linha de passe sérvio, que é horrível e extremamente irregular.
Assim como você, quero muito falar sobre a seleção russa. O Kuzyutkin, mesmo não levando o time à fase final, pra mim, fez um grande trabalho com as jogadoras. Incrível como, com ele, o estilo de jogo russo mudou. O time variou bastante as jogadas e, mesmo perdendo os confrontos diretos contra os adversários mais fortes na fase de grupos, vendeu caro essas derrotas. A Filishtinskaia me surpreendeu muito. Gostei muito do trabalho dela neste Grand Prix e é uma pena que temos a volta da Pankova para a Copa dos Campeões. Queria muito que as levantadoras russas, nesse torneio, fossem a Startseva e ela.